sexta-feira, 29 de junho de 2012

CORRIDA A PÉ (52KM)

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Não caro leitor, o título não está errado, é isso mesmo 52km de corrida a pé. Neste último final de semana nossa amiga Claudia de Souza, ficou em 2º lugar na corrida chamada DESAFRIO que ocorre todo ano na gelada cidade de Urubici - Santa Catarina. Abaixo o relato dela sobre a prova. Parabéns Claudia pelo excelente resultado numa prova tão difícil.


Manhã do dia 23 de junho de 2012 em Urubici-SC, friozinho no ar, mas ao contrário do previsto, não chegou a 0ºC não vi nenhum termômetro, mas acredito que deveria estar uns 9ºC. Largada coletiva, dos 52 km, revezamento e 8 km, o clima da aglomeração fez subir a temperatura. Larguei no fundão, sentindo e segurando a emoção de participar de uma prova como esta. Para quem não conhece segue um pouco da prova:

O que é o DesaFrio Urubici. Uma corrida pedestre individual ou em dupla num dos lugares mais frios do Brasil. Urubici é uma cidade catarinense, distante 170 km da capital (Florianópolis), cuja altitude varia de 900 a 1826 metros. No ponto mais alto da cidade o CINDACTA II tem seus radares para rastreamento dos vôos, Morro da Igreja, a 1826 metros. A corrida se inicia  no centro da cidade e segue em aclive até o Morro da Igreja na Pedra furada. A volta de 26 km quase toda em declive tem seu término no centro da cidade. Paisagens deslumbrantes e vegetação típica de altitudes são as companheiras do atleta por quase todo o percurso.

Fonte http://www.ecofloripa.com.br/desafrio/br/o-evento/sobre-o-evento
                                               
 Largada animada como sempre, ótima para espantar o frio. Seguimos por uma reta na saída, marquei ali 2600m, a seguir chegamos nas estradinhas de chão batido, bem boas para desenvolver velocidade, mas desenvolver velocidade num começo de 52 km pode significar quebrar e chegar se arrastando no final, então mantive minha estratégia e segui no meio do pessoal, logo começaram os carreiros molhados e às vezes encharcados, lama e outras coisas mais que encontramos quando andarmos por pastagens.

Ali a prova começou a ficar mais divertida, subir e descer por meio aquilo tudo deixou o percurso bastante pesado e mais técnico, passamos por uns 3 ou 4 riachos, impossível não molhar os pés, e impossível não sentir os pés endurecem quando saíamos da água e quando já estavam quase normais vinha outro riacho.

Trecho bacana, lindo o lugar, mas como a trilha exigia cuidados não sobra tempo de desfrutar muito a paisagem, passamos vários mata burros, tinha também uma pontezinha em madeira, parece que improvisada pela organização, certeza que uns e outros passavam voado por estes dormentes mas eu passava na boa era a minha hora de tomar um fôlego.

O clima estava ótimo, frio só na largada, durante a prova não senti frio e nem calor, senti um pouco de falta de água, optei pela estratégia de não levar água, levei apenas glicodry, mas senti vontade de tomar mais água pura, a cada posto de hidratação tomava água que podia. Mais uns quilômetros adiante e chegamos numa trilha de subida bem forte de pedras, ali era baixa a cabeça e andar, às vezes esbarrando em pedras, muito dez a trilha, lembra um pouquinho o Moro do Canal em Piraquara-PR, mas não chegamos a usar as mãos. Antes de chegar nesta trilha me falaram que eu era a sétima, perdi uma posição nos pastos, mas na trilha recuperei duas ou três posições nem me lembro direito, mas pelo jeito eu deveria estar mais ou menos em quinto com a sexta colada no meu calcanhar.

Em seguida, do km 14 para 15 passamos pela cachoeira Véu da Noiva, uma queda d´água e tanto, tomara que eu ache uma foto minha naquele lugar. Ali o pessoal da organização falou que eu estava em segundo geral feminino, devo ter me perdido nas contas, mas ainda havia muita prova pela frente, muito cedo para pensar nisto.

Agora começaria a subida em asfalto que nos leva ao ponto mais alto da prova, o Morro da Igreja da Pedra Furada. Imaginava, pelos meus treinos, fazer um bela subida com poucas caminhadas, mas já na primeira rampa eu vi que não seria bem assim. Apesar de não ser como uma Serra da Graciosa que é uma subida constante, lá, mesmo estando sempre em ascensão, há umas descidas para dar uma soltada nas pernas, mas logo a seguir mais um top, sem contar que já estávamos com mais de 15 km de trilhas e subidas nas pernas, o conjunto disto tudo dá uma quebrada que não é fácil.

O negócio então era fazer o melhor possível e curtir o visual, aliás, o dia estava lindo, um céu azul, o sol refletindo nas serras, simplesmente maravilhoso, daquele alto temos visão de 360º do mundo, nos faz pensar o quanto pequemos somos diante do mundo, mas de quanta capacidade somos dotados.

Segui subindo às vezes correndo às vezes caminhado e aproveitando as poucas descidas da subida. Acho que há uns 2 km antes de chegar ao cume tive a visão do topo e do caminho que faltava percorrer e me anime quando vi que não era tanto e que a subida apesar de constante não seria tão forte, mas minha alegria acabou uns passos à frente, antes da subida havia uma descida enorme que nos levava para baixo para depois subir tudo de novo. 

Ali pensei e reclamei comigo mesma, porque não colocaram uma ponte pêncil aqui, uma corda, sei lá qualquer coisa descer tudo e depois subir não era justo, já pensando na inversão da volta. Mas tudo bem, afinal é corrida em montanha, mais um gole de líquido e vamos para baixo, e dá-lhe subir a última subida da primeira parte, quando fiz a curva à esquerda vi o final, mais uns passos e estava fazendo a volta agora é só alegria só descida rs.

É claro que não, se você está lendo com atenção falei que havia descida na subida e voltando as descidas viraram subidas, o negócio era mesmo o de sempre baixar a cabeça e ir, na hora que apertava muito caminhar e quando apertava mais um pouco eu pensava e pedia: Senhor me ajude em mais esta. Sem muita demora e sofrimento estava no último posto de hidratação do asfalto final da descida do Morro da Igreja, havia bastantes pessoas ali, parei, tomei água peguei sal e segui reto, mas logo uma boa alma me avisou, vira ali, é por ali à esquerda na trilha, estava indo pelo caminho errado, nisto ouvi uma voz perto de mim: “A pessoa chega aqui tão abalada que até erra o caminho“ eu deveria esta com uma cara meio desfigurada. rs. Isto deveria ser por volta do Km 35, aqui faço uma explicação da minha falta de certeza na informação da quilometragem, pois já na largada firmei o pensamento que só pensaria na chegada depois que terminasse a distância de uma maratona, até os 42 km olharia para as placas de quilometragem sem sentimento e sem emoção e evitando ao máximo a dita conta da diferença de quanto falta para o pórtico.

Seguindo a trilha, lembrei-me das palavras do Clodoaldo, “Claudinha o problema da volta são as descidas, muita pedra naqueles morros.” E reafirmo, é barro, pedras serra abaixo, às vezes pensava até em soltar tudo e ir rolando. Tomei mais um gel, sem água mesmo, e bora descer. Encontrei uma moça correndo dupla e um rapaz neste trecho, e mais a frete um boi que tinha chifres pontudos, a moça parou eu fiquei meio com receio também, mas o bichão logo correu, perguntei se ele correu para frente ou para os lados? Para frente, respondeu o rapaz. Menos mal, meu medo era ele ficar parado na trilha e se assustar quando passarmos iria ter atleta chegando lá embaixo pelas copas das árvores rs, Metros seguintes a trilha bifurcava e pegamos a direita e neste ponto havia dois fotógrafos, perguntei se um boi passou ali, eles afirmaram que sim que e ele foi reto pela trilha.. ufa.. .o boi se foi, continuando pegamos um trecho de quase 1 km onde despencamos uns 600m, via só um vale e ouvia o barulho de um rio, ali tinha umas crianças pedindo alguma coisinha, fiquei com dó de não ter nada para dar.

Finalmente acabei a descida, agora era a estradinha e depois a reta final que havia marcado os 2600m no início. Na estradinha consegui manter uma velocidade média por volta de 11 km/h, o que resulta num ritmo de volta de 5:40, é lento, mas naquela altura era o máximo que minhas pernas podiam fazer. Neste trecho encontrei uma vaca parada, no meio da estrada e um fotógrafo, era eu a vaca e o fotógrafo, a vaca parecia mansa, mas na hora parei e falei: e agora!  Ele me encorajou com um: pode vir, caminhei com cuidado bem quietinha ao lado da malhada sem muita troca de olhares e fui.

Encontrei também alguns solos e duplas, um me disse que eu era a segunda e que a primeira está bem longe, outro disse que eu era a terceira, não entendi muito bem, mas naquela hora sentia que o que podia acontecer, aconteceria, eu não conseguiria mudar meu ritmo, podem passar a vontade, mas eis que no último posto de hidratação faltando apenas 3600m eu vi uma mulher na minha frente e perguntei ao fiscal, aquela mulher é dupla não é? Querendo ouvir um sim e seguir feliz e tranquila como estava, mas ele ao contrário disse: não ela é solo é a primeira.  O sangue das pernas subiu no “zóio” e o estômago deu até uma revirada, o que viria a seguir independente do resultado eu sei que seria algo próximo a desespero e lágrimas. Mas não fiz o que a mente pediu de imediato, me concentrei em segui em meu ritmo, monitorando a velocidade, e até agora acho que errei nesta parte ou talvez não, nunca saberemos, mas em poucos instantes o inevitável aconteceu, uns metros adiante encostei-me à atleta, nesta hora estávamos pisando no calçamento da cidade, e como esperado ela apertou o ritmo e eu segui apertando, pensando “ela vai me matar do coração” ela apertou mais um pouquinho e eu juntei o restinho de força, ergui a barra do vestido e fui também, mas ainda faltava muito para o pórtico eu não consegui acompanhá-la.

Ela seguiu forte para sua primeira colocação. Faltando uns metros para chegada, mesmo eu vislumbrando o edifício do hotel para quem eu encontrava perguntava, falta muito, falta muito?  A resposta era sempre: “Não é ali”, mas ali era muito naquela hora, até que uma boa alma que já havia acabado, infelizmente não me lembro dele para agradecer correu comigo os últimos metros, nem acreditava quando cruzei aquele pórtico, apesar da emoção estava tão cansada que desta vez nem chorei na hora. Foi uma chegada e tanto, pena que o “racha” final foi longe do público que estava esperado no pórtico senão seria uma festa e tanto para eles e um desespero maior ainda para nós duas.

Foi uma prova e tanto, lindas paisagens, a cachoeira véu da noiva um espetáculo a parte, organização muito boa, muita superação, técnica, estratégia onde vários detalhes antes da largada e durante a prova fazem a diferença.

Agradeço a minha família que me apoia e entende meus momentos de ausência em função dos treinos em especial ao meu marido, a MTS Performance que além da ajuda técnica é um grande incentivador do esporte.

Compartilho com vocês a oração que sempre faço para estas provas e tenho fé e certeza que muito me ajuda:  Ele é o Deus que me reveste de força e torna perfeito o meu caminho. Torna meus pés ágeis como os da corça, sustenta-me nas alturas”. Sl. 18:32-33
Em nome de Jesus Amém. Difícil
Claudia Souza (Claudinha)
2º lugar geral solo feminino – tempo 5h28min30seg

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